Faz que vai, mas não vai... Lento, malicioso, traiçoeiro, um verdadeiro
jogo de banguela. Assim poderia definir o duelo travado entre a gestão
municipal e os capoeiristas camaçarienses.
Ao longo de praticamente os dois mandatos da atual gestão, essa
arte-luta foi pouquíssima apoiada e/ou reconhecida, apensar de ser,
segundo dados do próprio governo, o segundo esporte em número de praticantes em
nosso município. Capoeira boa, ficou claro durante esse tempo todo, é a que
serve para o picadeiro dos circos politiqueiros. A receita sempre foi a mesma:
mete-se os capoeiristas e toda a sua bagagem “africaníssimamente” brasileira
dentro de uma Kombi, dar-lhes um lanchinho, paga-lhes um cachê de miséria e
tudo está bom, afinal parece-lhes que esse é o estipêndio da diáspora.
Recentemente, a base de ponteiras, martelos e rasteiras digitais, onde mais uma
vez a ferramenta do “facebook” provou sua força e onde ainda, puxando a brasa
para a minha sardinha, desempenhei papel decisivo, foi realizado um grande
Seminário para se discutir os rumos da Capoeira em nosso município. Uma demanda
de “cá” “pra lá”, é bom frisar. Eleitoreira ou não. Cala a boca ou não. Valeu a
iniciativa e sensibilidade do ex-secretário da SEDEL. Não podemos ser levianos
em não anotar isso, mas é bom também registrar que quando vimos o candidato do
governo à sucessão municipal presente neste evento, nos fez ter a plena certeza
de que um palanque foi armado. Já se foi o tempo em que o capoeirista era
reconhecido como “brucutu”. Estamos atentos!
Entre mortos e feridos nesse jogo, a essa altura já subido para o São Bento
Grande, ficou a certeza da caminhada ainda longa dessa classe tão desmerecida
pelo atual chefe do executivo, reconhecidamente insensível nas questões
culturais. Por falar nisso, cultura, esporte ou educação? O miserável do tal de
“sombreamento”, a que a Capoeira vem sendo justificada, não se justifica mais.
Em municípios como Irará, Lauro de Freitas e São Francisco do Conde, não existe
sombra, nem escuridão. Essa nuvem negra só paira nas cabeças dos camaradas da
árvore choradeira. Creio que, independente da “Carta dos Capoeiristas de
Camaçari”,cujo teor, sem dúvida, é um avanço na discussão do papel da Capoeira
em nossa sociedade, a Prefeitura poderia – sim! –, ter investido nos grupos e
associações locais. A desculpa de termos uma cultura desorganizada e sombreada
não nos parece politicamente correto. O Seminário organizado pela SEDEL, também
serviu para provar que quando se quer, se faz – e rapidinho! Os recursos estão
disponíveis. Os caminhos existem e os meios são legais.
Historicamente nada foi fácil para a Capoeira: disfarçada, proibida, usada,
penalizada e discriminada. Hoje tornada em patrimônio cultural e imaterial do
povo brasileiro, a arte-luta ainda não dispõe de legislações e ações claras.
Continuamos lutando para que ela, juntamente com os seus baluartes, possam
finalmente ocupar lugar de destaque na sociedade e na gestão pública municipal.
Salve,
Caio Marcel (Professor Crente) admcaio@gmail.com é administrador de empresas e formado em capoeira regional, pelo Grupo
de Capoeira Regional Porto da Barra. Também é responsável e mantenedor do
Projeto Social Crianças Cabeludas, nos bairros do Parque das Mangabas, Monte
Gordo,Parque Satélite e Machadinho, em Camaçari.